Por Sergio Goncalves
LISBOA, 24 Jun (Reuters) – A crise gerada pela pandemia do coronavírus vai ter um impacto significativo no sector financeiro português e será um teste à sua resiliência, alertou o Banco de Portugal.
O banco central disse que desde a anterior crise financeira internacional foram tomadas medidas que se traduziram num reforço dos rácios de capital e da posição de liquidez dos bancos, e numa estrutura de financiamento mais estável.
“Não obstante estes mitigantes, é de esperar um impacto significativo da crise pandémica sobre o sector financeiro português, constituindo um teste à resiliência do sector”, referiu o BdP no Relatório de Estabilidade Financeira de Junho.
Adiantou que “a natureza e as implicações da crise pandémica requerem uma resposta coordenada a nível europeu”.
Portugal está a levantar gradualmente o ‘lockdown’ imposto em 18 de Março, mas o PIB já terá tido a maior queda de sempre no segundo trimestre e o Governo prevê que caia 6,9% em 2020, menos do que a queda de 9,5% estimada pelo banco central.
O Executivo prevê que o défice dispare para 6,3% do PIB este ano face ao superavit orçamental de 0,2% o ano passado e que o rácio da dívida pública suba para 134,4% do PIB em 2020 contra contra 117,7% em 2019.
“O aumento do endividamento das administrações públicas poderá colocar uma pressão adicional sobre o sistema bancário, especialmente num contexto de recuperação lenta da economia”, disse o BdP.
O banco central disse que o rácio de capital ‘common equity Tier 1’ (CET 1) subiu 1,1 pontos percentuais (pp) para 14,3% em Dezembro de 2019 mas é dos “mais baixos da área do euro – cerca de 3 pp abaixo da mediana observada em setembro de 2019”.
Realçou que, apesar das empresas portuguesas terem cortado a sua dívida para 92,8% do PIB em 2019, ou seja 34 pontos percentuais (pp) menos do que o máximo histórico em 2012, “o nível de endividamento ainda é elevado”.
Adiantou que as moratórias – públicas e privadas – de pagamento de prestações de crédito das empresas e famílias concedidas pelos oito maiores grupos bancários a actuar em Portugal ascendia, em 18 de Junho, a 39.000 milhões de euros ou 22% da carteira total de crédito a empresas e particulares.
O BdP disse que, “no contexto da crise pandémica, as condições para a continuação do processo de redução dos empréstimos non-performing (NPL) deverão ficar comprometidas”.
“A contração da atividade económica deverá condicionar negativamente a evolução do mercado imobiliário, com consequências para o sistema bancário”, afirmou.
Os bancos portugueses têm cortado agressivamente os ‘non performing loans’ (NPL) nos últimos anos e o rácio de NPL caiu para 6,1% do crédito total em Dezembro de 2019, versus o máximo histórico de 17,9% em Junho de 2016, mas é mais do dobro da média europeia.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)