© Reuters.
(Acrescenta citações sobre Novo Banco)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Dez (Reuters) – As moratóras de crédito em Portugal ao abrigo de um regime de ajuda a empresas e particulares durante a pandemia subiu para um nível muito elevado e devem ser reavaliadas, disse terça-feira o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno.
Os bancos portugueses suspenderam os reembolsos de capital e juros até Setembro de 2021 subjacentes a 46 mil milhões de euros (US $ 56 mil milhões) de empréstimos a empresas e familias sob aquele esquema para evitar um salto no malparado, de acordo com dados mais recentes do Banco de Portugal cobrindo o período até o final de setembro . de moratórias de reembolso de 24,4 mil milhões de euros de crédito a empresas, equivalentes a 32% do crédito total às empresas, e de 21,6 mil milhões de euros de crédito a particulares, ou 17% do seu total.
Centeno disse que o esquema é “um instrumento importante para fornecer liquidez em tempos de crise muito aguda”, mas a sua escala atingiu “em Portugal uma dimensão muito significativa, muito maior do que a média da área do euro e da União Europeia”.
As prestações devidas, em capital e juros, cujo pagamento foram adiados corresponde a 11 mil milhões de euros até Setembro de 2021, “é um número muito significativo pois é 15% do stock dos empréstimos”, disse o governador.
“Devemos reavaliar a amplitude, a dimensão e o foco dessas moratórias ao longo dos proximos meses. Devemos entender a necessidade de, assim que possível, retomar esse processo (de pagamento)”, disse Centeno a uma comissão do Parlamento.
Adiantou que as moratórias não constituem um perdão da dívida e os bancos devem continuar a monitorizar todos os seus empréstimos.
Em meados de 2020, Portugal reduziu o rácio de crédito não-performante (NPL) em três vezes para 5,5%, desde um pico em junho de 2016 no rescaldo da crise financeira e da recessão de 2010-2013. O rácio de NPL ainda é o dobro da média europeia.
Centeno alertou que a estabilidade financeira pode ser ameaçada após partidos da oposição bloquearem no mês passado uma injeção de capital de 476 milhões de euros pelo Fundo de Resolução português no Novo Banco, depois deste ter sido envolvido numa polémica sobre a venda de activos problemáticos.
“O Estado deve cumprir os seus contratos, obrigações”, afirmou, adiantando que foi assim que Portugal “reganhou credibilidade após a crise da dívida soberana”.
“Seria dramático que, após poucos anos, pusessemos em causa o cumprimento dos contratos e responsabilidades do país…que esse incumprimento tivesse impacto na estabilidade financeira”, disse.
O fundo de resolução detém 25% do Novo Banco, que emergiu do colapso do Banco Espírito Santo em 2014, e o fundo de private equity americano Lone Star o restante. ($ 1 = 0,8181 euros) (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua em Lisboa)