© Reuters. SAIBA MAIS-Hora de chocar e impressionar: 5 questões para o BCE
Por Dhara Ranasinghe e Ritvik Carvalho
LONDRES, 9 Set (Reuters) – A reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) desta semana está se consolidando como uma das mais antecipadas em anos, à medida que o banco se prepara para impulsionar uma fraca economia com uma série de medidas de estímulo.
Uma guerra comercial global ameaça levar a potente economia da Alemanha a uma recessão, e complicações do Brexit estão cada vez mais fortes. Não surpreende a promessa do BCE de novas medidas de estímulo na reunião de quinta-feira, um dos últimos passos que o presidente Mario Draghi pode dar antes do fim de seu mandato, em 31 de outubro.
Neste contexto, seguem cinco questões do BCE relevantes para os mercados:
1. Quão baixo irão as taxas?
O BCE está inclinado a um pacote que inclui um corte de juros, uma promessa reforçada de manter as taxas baixas por mais tempo e uma compensação aos bancos pelos efeitos colaterais das taxas negativas, disseram fontes à Reuters na semana passada.
No mínimo, os mercados esperam um corte de 10 pontos-base na taxa de depósito, para -0,50% –o que seria a primeira redução desde 2016.
Apostas do mercado sugerem que alguns investidores estão precificando um corte maior, de 20 pontos-base. Quase 25% dos economistas consultados pela Reuters também esperam isso.
O BCE também pode usar seu forward guidance (orientação futura) para sinalizar outro corte nos próximos meses. O mercado precifica 35 pontos-base de flexibilização total ao final de 2020.
2. O BCE retomará a flexibilização quantitativa?
Quase 90% dos economistas consultados pela Reuters esperam que o BCE anuncie um retorno à flexibilização quantitativa, começando com compras mensais de ativos em 30 bilhões de euros a partir de outubro.
Analistas dizem que isso provavelmente seria acompanhado de ajustes nas regras do BCE para aquisição de títulos, dada a escassez de dívida elegível. Por exemplo, o BCE poderia aumentar o limite de 33% da parcela dos títulos de um país que pode deter.
Embora não seja esperado, qualquer sinal de que o BCE possa começar a comprar ações ou títulos bancários seria uma grande surpresa.
3. Qual a eficácia das medidas?
Depois da redução das taxas para mínimas recordes e da injeção de 2,6 trilhões de euros de dinheiro barato na economia desde 2015, a inflação permanece abaixo da meta de quase 2% e o crescimento segue fraco. As expectativas de inflação sugerem que a meta do BCE não será cumpridas por anos.
Não é de admirar que muitos no mercado questionem se mais estímulos teriam o impacto desejado. Mais de 80% dos economistas consultados pela Reuters recentemente se mostraram céticos sobre a capacidade do BCE de influenciar a inflação.
4. E a meta de inflação do BCE?
Em julho, Draghi sugeriu uma reinterpretação da meta de inflação, o fundamento do arcabouço de política monetária do BCE.
Os formuladores de política monetária têm tido como alvo uma taxa de inflação de “quase, mas abaixo” de 2% há 16 anos. Draghi, em seu discurso em Sintra, em junho e outra vez em julho, falou sobre simetria –a noção de que a inflação poderia subir acima de 2% e depois permanecer lá.
Esse foi um sinal claro de que o viés de flexibilização monetária sem precedentes do BCE poderia ser mantido por mais tempo para garantir taxas mais altas de inflação.
Na coletiva de imprensa pós-reunião de política monetária, é provável que Draghi seja pressionado a explicar o que significa a simetria ou se o BCE planeja uma revisão formal de sua meta de inflação.
5. É provável que o BCE tome medidas para ajudar os bancos?
Sim. Uma maneira de fazer isso é adotar um tipo específico de taxa de depósito (tiered deposit rate) para aliviar os efeitos colaterais das taxas de juros muito negativas. O BCE sugeriu que está considerando isso.
Isso significa essencialmente o BCE reduzir a proporção de excesso de liquidez sujeita à taxa de depósito, atualmente em -0,40%. O excesso de liquidez –reservas bancárias acima dos requisitos mínimos– totaliza cerca de 1,2 trilhão de euros, ou 10% do PIB da zona do euro, de acordo com a Nomura.
Isso sugere que taxas negativas têm um custo significativo para os bancos. Mas a introdução de uma taxa de depósito diferenciada não é isenta de complicações e não há garantia de que as taxas diferenciadas aliviem a pressão sobre os credores.
O segundo passo que o BCE pode dar, talvez em combinação com o primeiro, é aumentar os termos de uma terceira rodada de empréstimos plurianuais baratos, anunciados no início deste ano.